A cena indie do survival horror cresce mais ano após ano graças a obras como Signalis, Tormented Souls, Fobia St. Dinfna Hotel e mais. Com um cenário favorável para esses jogos, mais estúdios se arriscam nesse universo e o game da vez é Post Trauma, título desenvolvido pela Red Soul Games e publicado pela Raw Fury.
Post Trauma aposta em uma abordagem que homenageia diversos games de terror ao longo da história dos videogames. Desde trechos com câmera fixa, tipo de gameplay mais presente ao longo da campanha, até momentos em primeira pessoa e com uma câmera quase over the shoulder também. Na teoria parece uma abordagem divertida, mas como tudo é mal explorado e passamos tão pouco tempo jogando em primeira pessoa e da forma mais moderna sem ângulos de câmera fixa, não é possível aproveitar por completo as nuances de cada estilo de gameplay.
Game esquece de se aprofundar em elementos e mecânicas apresentadas
Com um gênero tão abastado de excelentes jogos ao longo da história, Post Trauma se inspira em muitos deles, mas o que mais senti foram influências de The Evil Within e Silent Hill. Apesar das boas referências, o game tenta criar uma identidade própria, mas, infelizmente, acaba entregando uma casca vazia e mal explorada naquilo que se propõe. A história confusa não ajuda o jogador a ter apego com os personagens ou até mesmo sentir medo das localidades que visita ao longo da campanha – mesmo que a atmosfera seja soturna o suficiente para dar certo medo, não me senti assustado em nenhuma ocasião.
Como dito anteriormente, a história do game é uma confusão e quer que o jogador interprete tudo da forma que quiser. Sem o apoio de documentos – elemento muito comum dentro do survival horror que está completamente ausente do game –, ou de um mapa que conte uma narrativa, tudo fica muito incógnito e afasta o jogador do envolvimento com a trama e com os personagens. Na maior parte do tempo jogamos com Roman, um guarda de metrô que acorda em um trem mal-assombrado. Mesmo jogando com ele o game inteiro, é impossível criar qualquer vínculo com o personagem, até mesmo com as demais figuras da obra, como Carlos, personagem que controlamos nos trechos em primeira pessoa, ou Freya, garota que conhecemos na metade do jogo e que não diz quem é ou quais os objetivos dela em nenhum momento do game. Apesar de acharmos algumas fitas cassetes gravadas por Carlos, cujo intuito é ajudar na compreensão da trama, a narrativa se mantém vaga.
Post Trauma aposta muito em uma narrativa cheia de segredos semelhante à de Silent Hill, mas o game esquece de contextualizar e até mesmo de revelar alguns segredos como o jogo da Konami faz.
Combate no game erra em tudo que aplica, mas quebra-cabeças sobrepõem algumas falhas
A gameplay é outro fator que me desagradou. Apesar de estar acostumado com jogos com câmera fixa e gostar muito de survival horrors que apostam nessa abordagem, o game até acerta muito em como usar alguns ângulos de câmera para torná-lo mais assustador, mas Post Trauma se torna uma bagunça devido ao combate.
Infelizmente, o game pega todos os defeitos que o gênero survival horror e games de câmera fixa cometem em situações de batalha e os replica de forma muito desagradável. Por não contar com um sistema de trava de mira – coisa que Silent Hill e Resident Evil fizeram nos anos 1990 –, Post Trauma se torna frustrante no combate corpo a corpo e muito irritante com as armas de fogo.
Os puzzles do game são brilhantes e desafiam muito a observação de cenário do jogador e a exploração que é necessária ser feita. Esse elemento me agradou muito e deu certo desafio bastante justo para o game, diferente do combate completamente injusto.
A atmosfera muito bem feita, bons ângulos e excelentes puzzles são os únicos pontos de destaque de Post Trauma. Desenvolver jogos é difícil e a Red Souls Games consegue produzir uma obra ok, mas que carece bastante de aprofundamento narrativo e melhor otimização do combate.
Mesmo que bem-intencionado, o game tenta abraçar o mundo e mostrar diferentes abordagens do survival horror de forma rasa e nada marcante, o que torna ele uma experiência mórbida e esquecível em um gênero abastado de títulos inesquecíveis e excelentes, seja na cena indie ou grandes AAA.
Créditos Autor: Vitor Conceição
Créditos Imagens: Reprodução Internet
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