Não é de hoje que a longevidade de esportes eletrônicos está em pauta. Com desenvolvedoras como Riot Games e Ubisoft recorrendo a circuitos competitivos fechados e/ou investimento milionário como o da Arábia Saudita, áreas que antes eram vistas com forte potencial de crescimento sociocultural hoje giram em torno de comunidades cada vez mais nichadas e, em teoria, autossuficientes.
E, enquanto empresas endêmicas olham cada vez mais para soluções que resultem em retorno financeiro imediato, companhias externas ao mercado enxergam oportunidades de explorar a falha atual dos esports para encaixar modalidades não convencionais dentro do mesmo balão. O sucesso da Kings League, campeonato que usa o futebol como ponto de partida para jogos baseados em sorte, e a qualificação da liga para palestras sobre jogos e esports como as da Rio2C é o mais gritante indicativo que a indústria está procurando novos ares.
A adição de xadrez online ao catálogo de modalidades da Esports World Cup também demonstra que, possivelmente em decorrência da insegurança que o Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda tem com jogos competitivos que ferem a integridade olímpica, a Arábia Saudita busca mais alternativas de validação. Existem, também, diversas iniciativas nacionais, como a da DiversiGames, para montar seleções brasileiras de videogames comumente não relacionados com esports.
Entre elas, está o evento Jogos do Futuro, que teve sua primeira edição presencial na Rússia em 2024 e atraiu mais de 300 mil visitantes em pouco mais de um mês de disputas. Ele une partidas de esports tradicionais — como League of Legends e VALORANT — com as dos chamados ‘esportes figitais’ — jogos esportivos como EA Sports FC que emulam competições reais — e agora mira o Brasil como potencial mercado de interesse. Moacyr Alves Junior, CEO da Phygital Games Brasil, comentou ao IGN Brasil que a empresa busca abrir uma confederação para lidar com os interessados na “junção do game com o esporte tradicional”.
De acordo com ele, a ideia é que as partidas comecem no digital e terminem no real, buscando jogadores habilidosos em ambos os ramos. René Fasel, ex-presidente da Federação Internacional de Hóquei no Gelo e fundador da Phygital International, opinou que o evento tem como objetivo “trazer [os jogadores] de esports para o campo do esporte”. “Eu diria que é um bom produto social, sabe, trazer pessoas jovens para a prática do esporte”.
Atualmente, a seção de ‘figital’ dos Jogos do Futuro contempla futebol, basquete, tiro, luta, dança e corrida com jogos que correspondem às atividades digitais. Fasel acrescentou, no entanto, que a organização tem pensado em maneiras para incluir games que não funcionam na vida real, como Dota 2, no universo ‘figital’; ele acredita que a empresa enxerga esports de forma diferente do que o COI.
“Eu trabalhei por 26 anos com os Jogos Olímpicos e eles também têm dificuldades. Nós, no esporte, estamos perdendo pessoas muito jovens, quero dizer, muitas pessoas jovens não praticam mais esporte. Agora, com toda a tecnologia e redes sociais, podemos realmente trazer jovens interessados nesse novo desenvolvimento esportivo”, disse Fasel. Ainda que as principais organizações de esports tenham rotinas de treinamento físico, o mesmo não acontece para quem está em procura do estrelato na área.
Em relação ao comprometimento no Brasil, Junior ressaltou que a organização fez uma edição teste no país com duas modalidades, basquete e futebol, e foi uma “surpresa” ver a quantidade de inscritos. “Preenchemos todas as vagas em todos os times”, comentou, dizendo que atletas profissionais de ambos os esportes estiveram presentes no evento de dois dias que ocorreu no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa Marechal Mário Ary Pires (COTP), em São Paulo.
“Já estamos pensando em vários programas para crianças, como o que vamos lançar no futuro voltado para estudantes e universitários. […] Estamos pensando em jogos estudantis envolvendo o ‘figital'”, comentou o brasileiro ao ressaltar que a versão brasileira do torneio terá divisões profissionais e amadoras.
Embora soe como uma gincana, Junior destaca que a operação não é focada no entretenimento e garante que os atletas profissionais serão avaliados como tal. “Eu não quero ser influenciador, estou focado na família. Quero que o pai da criança vá lá e torça pelo filho. Acho que esse é o nosso maior atrativo”, disse, ressaltando que o objetivo inicial é motivar que jogadores encontrem novas formas de se exercitarem.
O Brasil é um dos países que será analisado para ser a sede da edição de 2027 dos Jogos do Futuro; a definição acontecerá em 28 de maio deste ano. Para Fasel, o país é um “país do esporte”. “Não somente em futebol, mas de maneira geral, as pessoas amam o esporte e são muito ativos. Tem uma comunidade muito grande para trazer [esporte e ‘figital’] juntos, é um lugar ideal para trazer [ao torneio]”.
Hoje, os Jogos do Futuro contemplam qualificatórias regionais para diferentes modalidades até as respectivas vagas para os campeonatos principais. A edição de 2026 acontecerá nos Emirados Árabes Unidos, mesmo local que construirá uma “ilha” bilionária voltada aos esports. Caso as modalidades vinguem no Brasil, pode ser um passo adiante para que seleções brasileiras dos títulos já aprovados nos Jogos Olímpicos de Esports consigam ser estruturadas.
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Créditos Autor: Maria Eduarda Cury
Créditos Imagens: Reprodução Internet
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