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Review: Dragon Ball: Sparking! Zero é a série em Instinto Superior

Quem achou que Dragon Ball FighterZ seria o ápice da icônica franquia do mestre Toriyama nos games felizmente se enganou. Se FighterZ, o excelente jogo de luta da Arc System Works, é a série em sua forma de Super Saiyajin Blue, Dragon Ball Sparking Zero, por sua vez, o arena fighter 3D que dá continuidade ao legado de Budokai Tenkaichi, é Dragon Ball em sua transformação de Instinto Superior.

Brincadeiras e analogias à parte, Dragon Ball Sparking Zero é, em primeiro lugar, uma carta de amor a quem, nos anos 1990 e 2000, “respirava” a saga de Goku e chegava da escola esbaforido para assistir aos episódios de Dragon Ball Z na TV Globo, no extinto programa Bambuluá – os 30+ vão captar rapidinho a referência.

Escrever sobre um novo jogo baseado no irretocável trabalho de Toriyama sempre tem um peso diferente para mim, confesso, pois remonta aos tempos em que minhas preocupações eram genuinamente as de uma criança obcecada pelos Saiyajins. Sinto saudades da época em que não perdia Dragon Ball na TV por nada e passava horas treinando em Dragon Ball GT: Final Bout para ser o melhor entre os amigos quando jogávamos nos finais de semana. E sinto ainda mais saudades de Toriyama, o verdadeiro gênio por trás das minhas alegrias de infância.

De fã para fã

Antes de tudo, preciso tirar o elefante branco da sala e dizer que sim, Dragon Ball Sparking Zero é um jogo destinado a fãs, feito por um estúdio que deixa transparecer o seu carinho pela franquia e sabe preservar não só as características de Budokai Tenkaichi como também o patrimônio das obras de Akira Toriyama.

Por ser um jogo de fã para fã, é natural que quem não tem nenhum tipo de conexão com Dragon Ball não compreenda a importância que o sucessor espiritual de Budokai Tenkaichi tem para a comunidade e a comoção que seu lançamento gerou. Se você, que está aqui comigo nesta análise, não tem familiaridade alguma com a série, o produto que você procura não é Dragon Ball Sparking Zero, mas talvez seja Dragon Ball Z: Kakarot.

Dragon Ball: Kakarot, diferentemente de Dragon Ball Sparking Zero, parte do princípio de que você nunca sequer ouviu falar de Goku – o que considero bastante improvável, dada a massificação da marca Dragon Ball pelo mundo – e explica todos os arcos de Dragon Ball Z, dos Saiyajins à saga de Majin Boo, respeitando os principais acontecimentos de cada um deles.

Dragon Ball Sparking Zero, por outro lado, é uma ode às criações de Toriyama e rebobina todos os episódios com urgência, desde a fase inicial de Goku até sua forma final na treta contra Jiren em Dragon Ball Super, mas assume que você já conhece toda a história.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

Bem-vinda de volta, tendinite

Por mais paradoxal que seja, eu também estava com saudades da minha tendinite. Quando a inflamação não é ocasionada por passar muito tempo no trabalho, e sim por esmagar botões que nem maluco, dá até para dizer que as dores na mão e no pulso são bem-vindas. Em outras palavras, a tendinite passa a ser um símbolo do quanto é preciso se doar para absorver plenamente as mecânicas de Dragon Ball Sparking Zero.

Não dá para começar a falar sobre o jogo sem destacar o gameplay, herdado dos games antigos, que é o alicerce que sustenta a experiência. Adepto da filosofia “fácil de aprender, difícil de dominar”, o combate conserva os pilares dos games de luta estilo arena 3D, mas imprime uma fluidez impressionante, quase como a de um fighting game 2D, permitindo desferir ataques coordenados e combos quase imparáveis.

Sério: é uma delícia espancar a galera em Dragon Ball Sparking Zero, seja um adversário controlado pela máquina, seja uma pessoa real no multiplayer.

Adepto do “fácil de aprender, difícil de dominar”, o combate intenso de Dragon Ball Sparking Zero faz valer a tendinite

Macetar botões continua necessário e é um elemento crucial da jogabilidade, mas dominar o teletransporte, o contra-ataque, a esquiva e, sobretudo, gerenciar o Ki, são ações que se tornam igualmente valiosas, demandando estratégia e precisão de Saiyajin nos controles. A curva de aprendizado, embora não demonstre à primeira vista, é longa e árdua, mas recompensadora quando o movimento de se projetar nas costas do inimigo passa a ser instintivo.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

Carregar o Ki até o talo coloca o personagem em um estado de frenesi, o Sparking que dá nome ao título, o que destrava um novo moveset de golpes básicos e um ataque supremo para derreter os oponentes, tal como a Genki Dama de Goku. Dragon Ball Sparking Zero pode ser uma carta na manga para surpreender jogadores desavisados e uma forma de virar a mesa em situações difíceis, aumentando a imprevisibilidade das batalhas.

Quebrado, ainda bem

Ao contrário de Dragon Ball FighterZ, Dragon Ball Sparking Zero faz questão de ser um jogo “quebrado”, isto é, com personagens nada balanceados, de modo a refletir o nível de poder deles na obra original. Em FighterZ, por exemplo, por ter sido um game concebido para o cenário competitivo, Piccolo e Broly lutam de igual para igual, mas isso definitivamente não aconteceria na realidade do anime, tampouco em Sparking! Zero.

A maneira que a Bandai encontrou de harmonizar isso no modo multiplayer é simples: você tem um número definido de pontos para gastar no seletor de personagens, sendo que os bonecos mais fortes têm um custo maior, o que nos obriga a escolher um mais fraco como consequência. Portanto, ainda que mínimo, existe um equilíbrio na jogatina online – então não, você não pode ter Broly e Goku em suas formas finais no mesmo time.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

Falando sobre personagens, o plantel de Dragon Ball Sparking Zero é, sem dúvidas, o maior da série, quiçá um dos maiores entre todos os jogos de luta, 2D ou 3D. São mais de 180 lutadores disponíveis, apesar de poucos estarem habilitados no início. Como dizia o slogan de Super Smash Bros. Ultimate, “todo mundo está aqui”.

Particularmente, não vejo a adição das várias formas de Goku, Gohan, Vegeta e Trunks como algo negativo, visto que elas têm suas particularidades e movimentos únicos de luta, mas entendo que a repetição seja intencional só para inflar o elenco. Para mim, quanto mais, melhor.

Altos e baixos: desfechos inusitados e os episódios de história

Parece tudo lindo, mas não é: o modo história de Dragon Ball Sparking Zero (aqui chamado de Batalha de Episódio), a meu ver, é o ponto mais baixo, e nos coloca para reviver os principais embates dos heróis e vilões, o que inclui Goku, Vegeta e Gohan, além de Goku Black, Freeza e Jiren.

O problema, entretanto, é que quase tudo é contado por meio de flashbacks e cenas estáticas, sem muito contexto, numa qualidade quase cômica de apresentação de PowerPoint.

Não só isso, mas os episódios de batalha simplesmente ignoram eventos importantes da trajetória de certos personagens, o que deixa um ponto de interrogação em nossa cabeça ao longo do caminho. Contudo, como ponto positivo, a campanha revela versões alternativas dos acontecimentos do anime, contanto que você faça escolhas e atinja alguns critérios durante os confrontos. E se Goku, por exemplo, não tivesse se sacrificado na batalha contra Raditz?

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

A comunidade também pode criar desfechos inusitados por meio do modo Batalha Personalizada, cujas mecânicas dão liberdade total ao jogador para roteirizar e dirigir embates que nunca existiram, situações absurdas do tipo colocar Goten para cair na porrada com a Kefla.

Essas batalhas de Dragon Ball Sparking Zero são disponibilizadas para que outros usuários desfrutem de suas criações, e você também pode se aventurar por histórias idealizadas pela comunidade, assegurando um altíssimo fator replay.

Admito que o modo criação de Dragon Ball Sparking Zero não é muito a minha praia, em especial por ser mais complicado do que eu imaginava e parece feito para quem realmente se dedica, mas fico feliz que ele esteja presente. Seja criando ou jogando projetos dos outros, as batalhas personalizadas têm seu valor e devem dar ao jogo a longevidade que ele merece.

Torneios e multiplayer: sim, por favor

Os torneios estão de volta, agora abrangendo desde Dragon Ball, com Goku criança, até o Super, representando a boa e velha jogatina arcade, imprescindível a jogos com essa premissa. Você pode jogar torneios online contra outras pessoas ao redor do mundo, mas também há partidas casuais e ranqueadas, que são as opções em que os jogadores hardcore vão despender seu tempo.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

Embora os modos multiplayer de Dragon Ball Sparking Zero atendam às expectativas em termos de conexão e funcionalidades, a dinâmica de montar salas é um tanto burocrática e, digamos, irritante, mesmo para partidas rápidas. Seria bacana se o jogo pudesse nos colocar direto numa luta, tal como os matchmakings de outros títulos do gênero costumam fazer, sem essas idas e vindas desgastantes entre salas.

Muito aguardado por quem jogava Budokai Tenkaichi nos anos 2000, o modo cooperativo local foi meio que adicionado às pressas, já que não estava nos planos iniciais da Spike Chunsoft, produtora do game. Limitado, ele quase não oferece opções de personalização de partidas, exceto na seleção de personagens, o que é um tanto frustrante, posto que se pode jogar somente na Sala do Tempo. Vendo sob um viés positivo, porém, a competição entre amigos sempre será uma ferramenta de interação social poderosa e divertida – e é ótimo que os desenvolvedores não a abandonaram.

Quase tudo “nos trinques”

Por recriar um anime muito “visual”, isto é, que sempre abusou de cenas impactantes e exageradas para promover a escala épica de seus confrontos, a apresentação acaba sendo um dos grandes chamarizes de Dragon Ball Sparking Zero. O título faz jus à qualidade dos trabalhos artísticos de Toriyama e Toyotaro, dois dos mangakás mais influentes da história, cumprindo todos os requisitos que uma obra que estampa o nome de Dragon Ball deve atender.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira

Dos cenários aos personagens, é notável o cuidado que a desenvolvedora teve na hora de transpor os traços característicos da série para a Unreal Engine 5. É aquele tipo de jogo que, quanto mais você joga, mais você quer jogar para apreciar o espetáculo visual. Não atinge o mesmo nível técnico de FighterZ, até pelo fato de o jogo da Arc System ter um escopo menor, mas Dragon Ball Sparking Zero também consegue nos surpreender a cada flash de Kamehameha.

Além de já ter apontado os defeitos de seu contido modo história, outra ressalva que não posso deixar de mencionar é sobre os elementos de interface. É compreensível que Dragon Ball Sparking Zero queira nos levar de volta à melhor era de nossas vidas, ao tempo áureo do PlayStation 2, mas seus menus são estranhamente antiquados, com ícones dispostos de maneira esquisita e pouco intuitiva, numa tentativa de deixar a navegação com sabor de nostalgia. Não há charme nisso; pelo contrário, isso demonstra até uma certa indolência do estúdio.

Dragon Ball Sparking Zero vale a pena?

Cumprindo o que havia prometido, Dragon Ball Sparking Zero dá ênfase ao combate, refina as mecânicas consolidadas em Budokai Tenkaichi e passeia pelo legado de 40 anos da franquia para compor a experiência definitiva dos jogos de luta em arena 3D. Como a primeira obra póstuma da série de Toriyama nos videogames, Sparking! Zero celebra a herança do autor japonês com um tributo à altura de sua imensa contribuição à formação do nosso caráter. Que Dragon Ball seja eternizado.

Uma cópia de Dragon Ball Sparking Zero foi gentilmente cedida pela Bandai Namco para a realização desta análise no PlayStation 5

Fonte: Clique aqui


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