Um dos gêneros mais populares e importantes dos videogames na última década foi o soulslike. Encabeçado pela FromSoftware e títulos como Dark Souls, Bloodborne e, mais recentemente, Elden Ring, essa categoria derivada dos RPGs de ação reverbera sucessos há 10 anos. Para embarcar nessa onda, a desenvolvedora Neople e a publicadora Nexon criaram The First Berserker: Khazan, novo soulslike baseado no universo do aqui no Brasil quase desconhecido Dungeon Fighter Online, que deixa as raízes de Dark Souls de lado para se inspirar em Nioh e nos soulslikes da Team Ninja.
Durante as minhas mais de 35 horas de jogo, pude encontrar muitas qualidades no combate e construção de builds baseadas nos inúmeros itens que podemos combinar, mas me senti extremamente entediado com um level design fraco, uma repetição de inimigos no mínimo esquisita e personagens desinteressantes. The First Berserker: Khazan é um jogo muito intenso para o bem e para o mal, mas consegue demonstrar proeminência naquilo que se propõe a ser: um soulslike desafiador.
Narrativa é o ponto mais baixo do jogo
Com uma narrativa um tanto quanto comum em histórias de brucutus em busca de vingança, o jogo segue esse mesmo caminho e nos apresenta Khazan, um poderoso general do império de Pell Los, que é condenado injustamente e exilado para montanhas nevadas por traição ao imperador. No entanto, o acaso do destino faz com que ele seja “salvo” por um espírito maligno que o possui e assim começa uma longa jornada de vingança. A premissa é bastante básica, mas a extensão do universo faz com que a narrativa ganhe camadas de profundidade, embora nenhuma delas consiga tornar o enredo cativante de verdade.
Mesmo com reviravoltas mirabolantes, a trama de traição se mantém clichê do início ao fim e em diversos momentos é sonolenta. Os personagens de suporte também são imemoráveis e apenas uma se destacou para mim entre aliados e inimigos: Elamein. Apesar de o vilão ser bom, ele não sustenta a trama fraca. A história é definitivamente o ponto mais baixo do jogo, mas que não pesa tanto graças ao combate sólido e eficiente – pelo menos na maioria das vezes.
Combate é o grande brilho do jogo e segura imperfeições
O ponto de maior destaque e brilho de The First Berserker: Khazan é, sem dúvidas, o combate. Extremamente fluido, veloz, intenso, cheio de variedade de armas e habilidades. O game é um soulslike bastante voltado para o parry, mas não de uma forma semelhante a Sekiro. Aqui, a ausência de escudo obriga você a dominar a habilidade de aparar ataques e de desviar no momento certo, porém a esquiva é curta e muitas vezes é a pior opção para escapar de ataques.
Quando partirmos para o ataque, no entanto, vemos aqui onde a equipe da Neople depositou grande parte dos esforços. Khazan é como uma mistura de Kratos, o Chosen One de Dark Souls e o Lobo de Sekiro — tudo isso parece confuso, mas quando o controlamos as coisas se alinham. O jogo apresenta três opções de arma: lanças, empunhadura dupla com espada e machado e, por fim, a espada de duas mãos. Na minha gameplay, optei pela lança na maior parte do tempo, afinal, o dano me pareceu mais equilibrado e a velocidade de ataque me satisfez mais.
O crescimento da jogabilidade é exponencial: no começo temos combos simples e ataques com dardo — semelhante ao arco e flecha. No entanto, conforme aprofundamos a vasta árvore de habilidades de Khazan, as lutas se tornam mais fluidas, sangrentas e polidas de certa forma. Mesmo assim, não pude deixar de observar que em algumas situações a hitbox me pareceu meio confusa e até mesmo problemática, tanto para inimigos quanto para armadilhas do cenário, mas foram casos bem específicos e que não se repetiram.
Os combos de lança são dinâmicos e se encaixaram perfeitamente na minha gameplay. Consegui acabar com inimigos rapidamente, mas precisamos falar sobre o equilíbrio de dificuldade muito peculiar que o jogo apresenta.
Quanto às batalhas de chefe, algumas são básicas, desde a música e movimentos do inimigo até as arenas, enquanto outras mostram o potencial do jogo e exigem o uso máximo das mecânicas de The First Berserker. Na minha experiência pessoal, nenhuma delas merece grande destaque, exceto a batalha final que é digna de um grande RPG de ação pela magnitude do combate.
Um grande destaque do jogo é a criação de builds que se baseia muito nos sistemas de Nioh. É possível ter muito controle dos status do personagem e adaptar Khazan para a sua arma e jogabilidade. Itens do mesmo set concedem bônus conforme você equipá-los e acumular status.
O único sistema ruim de combate é o de invocações, que não ajudam em nada durante as batalhas de chefe e muitas vezes apenas atrapalham. No entanto, os fantasmas são um bom suporte em lutas rotineiras.
Dificuldade é confusa e inconsistente
Obviamente, por ser um soulslike, The First Berserker: Khazan possui uma dificuldade acentuada, mas os picos de complexidade em progredir no jogo são… esquisitos. Alguns chefes e mapas iniciais são muito difíceis, enquanto algumas batalhas intermediárias contra inimigos de elite e até mesmo os chefões não apresentam desafio, e, por fim, as batalhas mais avançadas são surpreendentemente fáceis. Isso seria normal caso esses picos de dificuldade fossem parte da progressão que, obviamente, fica menos complexa conforme o avançar do jogo, mas The First Berserker tem uma inconsistência de dificuldade que, a meu ver, mostra uma falha de balanceamento no jogo que empobrece a experiência.
Level design e repetitividade tornam o jogo cansativo
Um dos maiores destaques da FromSoftware em Dark Souls é o mapa minuciosamente conectado que possui atalhos e conexões que exploram a sagacidade dos designers em produzir essas fases. Infelizmente, por optar em se inspirar na Team Ninja e jogos como Nioh e Wo Long: Fallen Dynasty, o level design de The First Berserker: Khazan se perde em diversos momentos.
Apesar de contar com áreas vastas e alguns atalhos, muitas regiões do mapa parecem sem vida ou possuem conexões um tanto quanto sem sentido que seriam melhores apenas colocando outra espada da fenda, a “bonfire” do game, para tornar a ligação entre áreas dos biomas mais inteligentes. O jogo poderia olhar mais para Lies of P e criar um level design muito melhor, mas se inspirou justamente em soulslikes com design de mapa problemáticos.
A má qualidade do level design se alinha à repetitividade de inimigos, aspecto ainda mais evidente quando olhamos para as missões secundárias, que reutilizam esses cenários com pequenas mudanças e tornam o jogo cansativo ao longo do tempo.
The First Berserker: Khazan é intenso para o bem e para o mal. Quando o jogo está imerso em seu combate, criação de builds e algumas batalhas de chefe, ele brilha e muito, quase alcançando a prateleira dos ótimos soulslikes. Contudo, o level design ruim, repetição de inimigos, história sonolenta e dificuldade inconsistente fazem ele cair de patamar e ser só mais um soulslike, embora ainda figure entre os bons títulos do gênero, não mais do que isso. Os amantes de Nioh e de jogatinas difíceis encontrarão muita diversão em mais de 35 horas de campanha.
Créditos Autor: Vitor Conceição
Créditos Imagens: Reprodução Internet
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